Impulsionar a adoção da CBDC de retalho através do Desenvolvimento Lean de Produtos (LPD)

Impulsionar a adoção da CBDC de retalho através do Desenvolvimento Lean de Produtos (LPD)

Resumo

A CBDC de retalho é um instrumento político que depende da adoção pelos utilizadores. Embora a conceção das CBDC se tenha centrado em grande medida em considerações concetuais e políticas, as experiências recentes de implementação sugerem que estas podem ser insuficientes para impulsionar a sua utilização. A literatura sobre Desenvolvimento Lean de Produtos (Lean Product Development, LPD na sigla inglesa) oferece estratégias para orientar a conceção centrada no utilizador e promover a sua adoção. Os conceitos proeminentes de LPD são aqui discutidos no contexto do desenvolvimento da CBDC de retalho.

O problema da adoção da CBDC

Uma Moeda Digital do Banco Central (CBDC) de retalho é essencialmente uma ferramenta política com uma combinação variável de objetivos entre jurisdições, incluindo a inclusão financeira, a soberania monetária, a inovação e a concorrência. No entanto, o seu sucesso como instrumento político depende da adoção pelos utilizadores. É natural que os aspetos políticos das CBDC tenham recebido a maior parte da atenção, mas os fatores que impulsionam a sua adoção estão a ser objeto de um maior escrutínio, especialmente à luz dos primeiros resultados.

Com efeito, a adoção e a utilização das CBDC já implementadas, e das CBDC piloto em fase avançada têm sido dececionantes: Na China, as transações em e-CNY totalizaram apenas cerca de 15 mil milhões de dólares em 2022 - um valor estimado de um dólar por cada mil gastos nas grandes aplicações móveis; o Sand Dollar das Bahamas não conquistou ainda uma utilização generalizada e, no final de 2022, tinha atingido uma taxa de adoção de apenas 7,9%. O JamDex da Jamaica tem uma aceitação igualmente dececionante; e a estratégia de lançamento faseado do eNaira da Nigéria e da “tecnologia em primeiro lugar” levou a "algumas semanas de aumento inicial antes de diminuir"

O problema da adoção da CBDC

Esta fraca adoção é desencorajadora, sobretudo porque os novos métodos de pagamento dependem da massa crítica para desencadear efeitos de rede. Segundo o FMI: " poderemos perder o impulso inicial para conseguir a adoção das CBDC pelo mercado e até retroceder se não conseguirmos ultrapassar o ponto de viragem..."

Para promover a adoção, os criadores das CBDC devem ter em conta características que o inquérito veio revelar, como a fiabilidade, a conveniência e a segurança. No entanto, devem também esforçar-se por compreender a procura dos utilizadores de forma mais metódica, para as CBDC satisfazerem as necessidades reais e oferecerem propostas de valor claras.

Uma abordagem de Desenvolvimento Lean de Produto (LPD) à conceção das CBDC

A adoção de uma CBDC de retalho dependerá em grande parte da forma como os utilizadores reagem a um novo produto tecnológico, quer se trate de uma aplicação, interface, cartão ou dispositivo. Para melhor antecipar esta reação, podemos recolher conhecimentos e retirar lições aprendidas a custo pela indústria tecnológica. O Desenvolvimento Lean de Produtos (LPD) surgiu para mitigar o risco de fracasso de novos produtos e surge como uma lente para ajudar a conceber, e comercializar, uma CBDC com maior probabilidade de os utilizadores a virem aceitar, adotar e utilizar.

O LPD inspirou-se no Sistema de Produção da Toyota (TPS), que procurava minimizar o desperdício, encurtar o tempo de colocação no mercado e melhorar o valor para o cliente. O LPD traduziu estes objetivos para o espaço da inovação de produtos. O princípio fundamental do LPD é que "a inovação eficiente é aquela para a qual exista uma procura efetiva por parte dos utilizadores. Ou, por outras palavras: o maior desperdício é criar um produto ou serviço de que ninguém precisa" Trata-se claramente de um risco significativo para as CBDC de retalho.

Tipologias LPD

Várias tipologias podem ser vistas como estando sob a alçada do LPD, incluindo:

  • A abordagem de desenvolvimento de clientes: tenta compreender o ponto de vista do cliente e constrói protótipos visando a sua satisfação, através de modelos de iteração e recolhendo feedback de clientes reais.
  • A abordagem Lean startup: começa com um conceito de produto baseado nas necessidades percecionadas de mercado, gerando a hipótese subjacente. Em seguida testa as hipóteses com potenciais utilizadores, com recurso do processo de desenvolvimento.

Estas abordagens são complementares, aproveitando o processo iterativo de construir, testar, aprender, e começar de novo. Consagram a importância da experimentação, da geração de novas ideias e soluções e, em seguida, do teste e da rejeição de caminhos pouco promissores.

Os princípios Lean também figuram no modelo de negócio para um novo produto, que engloba todas as partes móveis que devem estar equilibradas numa CBDC. Ferramentas como o Quadro de Modelo de Negócio (Business Model Canvas), Quadro Lean (Lean Canvas), e o Quadro de Proposta de Valor (Value Proposition Canvas) podem ajudar a conceitualizar diferentes configurações de segmentação de clientes, recursos, produção e entrega, e o seu impacto no resultado final.

Design thinking é uma abordagem que defende que o sucesso depende do equilíbrio entre a "desejabilidade" do utilizador, a "viabilidade" do fornecedor e a "exequibilidade" da solução - mas isto deve ser continuamente reavaliado através de um ciclo iterativo de "melhoria contínua".

Combinar os conceitos Lean

Os conceitos "Lean" que se enquadram neste âmbito são coerentes entre si e podem ser combinados para proporcionar uma visão holística dos componentes do desenvolvimento de produtos.

Combinar os conceitos Lean

  • O conceito de "desejabilidade" do design thinking corresponde à procura de um produto no mercado; a "viabilidade" refere-se às componentes exequíveis de uma solução, incluindo as parcerias necessárias para um modelo de fornecimento faseado. Nos casos em que se sobrepõem, podem ser criadas propostas de valor únicas para o utilizador.
  • Estas propostas únicas de valor podem ser geradas através do Quadro da Proposta de Valor - alimentado por casos de uso de pagamentos, bem como pelo desenvolvimento iterativo do ciclo construir-testar-aprender, tanto na perspetiva do desenvolvimento de clientes como na perspetiva Lean startup.
  • Quando a conveniência e a exequibilidade coexistem com a "viabilidade" do fornecedor, está criada a base para um modelo de negócio sustentável. Para uma CBDC de retalho, a viabilidade refere-se principalmente ao sucesso de um banco central em atingir objetivos da sua política monetária sem se desviar do seu mandato.
  • Os fatores do lado da oferta e da procura podem ser divididos em componentes na perspetiva de uma nova empresa em fase de arranque (Lean Canvas) ou na perspetiva de uma empresa mais madura (Business Model Canvas).
A abordagem LPD na conceção das CBDC para o sector retalhista

A abordagem "Lean" pode dar-nos uma perspetiva importante para o desenvolvimento da CBDC e está, de facto, a evidenciar-se nos relatórios que analisam os esforços da indústria. Mas os conceitos aqui discutidos podem ser aplicados de forma muito mais alargada. Uma abordagem de desenvolvimento de clientes pode permitir aos designers ir além dos inquéritos para compreender os pontos de fricção e os problemas, e validar casos de utilização e Produtos Mínimos Viáveis (PMV) com os primeiros utilizadores. O modelo de negócio e a proposta de valor podem ajudar a uma segmentação significativa dos utilizadores e a estabelecer a adequação produto-solução que irá gerar um valor único numa CBDC de retalho. É importante salientar que estas abordagens e ferramentas permitem formular hipóteses testáveis e acumular conhecimentos reutilizáveis de forma iterativa.

Conclusão

Embora tenham sido recolhidas informações valiosas de inquéritos e aportes de académicos a decisores políticos, continua a existir um risco significativo de que a aceitação dos produtos CBDC continue a ser demasiado baixa para atingir massa crítica. As abordagens de desenvolvimento de produtos Lean refletem ensinamentos resultantes de comportamentos dos utilizadores no espaço tecnológico em momentos anteriores, e podem servir de fonte de informação para os esforços de adoção das CBDC de retalho.

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